Sim, nós podemos, ou será não, não podemos
O discurso do Presidente americano, Barak Hussein Obama, no Cairo, na quinta-feira dia 4 de junho, deve ser entendido como uma definição política dos Estados Unidos. Quando o Presidente falou das relações políticas dos Estados Unidos com Israel, e também em relação aos vizinhos de Israel, devemos entender que discursos são diplomaticamente preparados e devem ser entendidos como mensagem para se interpretar o que quer explicitar e o quer ocultar.
Falou Barak Hussein Obama: “As fortes ligações da América com Israel são bem conhecidas. São ligações inquebrantáveis, baseadas em laços culturais e históricos e no reconhecimento de que a aspiração por uma pátria judaica se assenta numa história trágica, que não pode ser negada.” (…) “em todo o mundo o povo judeu foi perseguido por séculos, e o antissemitismo na Europa culminou num Holocausto sem precedentes.” (…) “Negar esse fato é irreal, ignorante e odioso. Ameaçar Israel de destruição (…) é profundamente errado.”
Entendamos: foram destacados os laços americanos com Israel e que o sonho de uma pátria judaica decorre da culpabilidade européia com o Holocausto, sem considerar que o Movimento Sionista se originou há mais de 100 anos, muito antes do Holocausto, e representou a condução política do milenar sonho pelo retorno à pátria judaica, acalentado e aspirado por 2.000 anos. Não foi o Holocausto que fez Israel: lamentavelmente, foi uma ajuda cruel. As Nações Unidas, por duas vezes trataram de recriar Israel: em 1920, na Conferência de San Remo e, em 1947, já depois do Holocausto, sob a presidência de Oswaldo Aranha. Mas, logo após as palavras sobre Israel, O Presidente Barak Hussein Obama prossegue:
“Por outro lado, é também inegável que o povo palestino – muçulmano e cristão – sofreu em busca de sua pátria. Por mais de sessenta anos aguentaram a dor de terem sido deslocados de sua pátria. Muitos aguardam, em campos de refugiados na Margem Ocidental, Gaza e países vizinhos, por uma vida de paz e segurança, que nunca lhes foi garantida. Acham-se submetidos a humilhações diárias, grandes e pequenas – decorrentes da ocupação. Portanto, que não haja dúvida (…) a situação do povo palestino é intolerável.” E mais disse: que “os palestinos se queixam que a fundação de Israel afastou-os da própria pátria”.
Bem, aqui Barak Hussein Obama negou tudo o que poderia ser entendido inicialmente sobre Israel. A busca de uma pátria pelo povo palestino, povo não judeu conforme deixado claro, dito afastado de sua pátria por mais de sessenta anos, conseqüência da ocupação, significa que o restabelecimento da antiga pátria judaica, no seu lugar histórico, isto é, Israel, há 61 anos, se fez com a ocupação de uma pátria palestina não judaica. Isso significa que Israel tem o direito de existir, mas não seria lá, porque lá acabou exilando, deslocando, afastando os palestinos não judeus de sua pátria respectiva. E mais, fez entender uma comparação entre o Holocausto e o sofrimento dos palestinos não judeus, o que é inconcebível e falso.
O Holocausto foi uma política de extinção do povo judeu, uma indústria de morte para promover essa extinção. Ninguém pretende extinguir palestinos não judeus, mesmo que se os considerem refugiados; ninguém pretende matá-los a todos. Dos milhões de refugiados em todo o mundo, os únicos que permanecem em campos de refugiados por sessenta anos, mesmo não o sendo, são os palestinos, assim mantidos como massa de manobra, sem piedade, sem absorvê-los nos locais onde se encontram. E ninguém fala nos judeus expulsos dos países árabes, todos já definitivamente assentados nos países onde foram recebidos, a mioria em Israel.
Trata-se de texto diplomático. Devemos entender o que fica dito, com clareza. Há aqueles que questionam o erro de falar em 60 anos, quando deveria ser após 1967, “ocupação” depois da Guerra dos Seis Dias. Não tratemos de corrigir ou não ver o que foi dito: a expressão foi “mais de sessenta anos” e explicitado a quem se refere como povo palestino: muçulmanos e cristãos. A Palestina deixa de ser judaica, como sempre o foi: judaica. Devemos saber que nunca houve, até hoje, um país chamado Palestina que não fosse judaico.
Israel não deslocou ninguém e, lembremos, quem fez a guerra em 1948, foram os árabes dos países vizinhos, que atacaram o novo Estado, em 1948 e, em conseqüência, surgiram refugiados. Perderam a guerra e esperneiam. Como falar em refugiados em Gaza, se Gaza está nas mãos de palestinos? Refugiados em sua própria terra? Bem, costumamos dizer que se deve entender que o que é bom para os americanos não significa ser bom para Israel, bom para os judeus, nem bom para nós do Brasil. Mas Barak Hussein Obama exortou os palestinos a renunciarem à violência e reconhecer Israel, coisa que nem Mahmoud Abbas faz.
Há mais coisas a examinar das colocações feitas pelo Presidente Barak Hussein Obama, mas no que toca às relações com Israel, por ora, é o bastante. E lamentável.
Herman Glanz
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