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sábado, 25 de abril de 2009

O circo pode pegar fogo

Com ou sem Ahmadinejad, o circo pode pegar fogo

NOVA YORK- O circo sem graça de Mahmoud Ahmadinejad vem aí. O presidente do Irã estará em visita oficial ao Brasil em 6 de maio. Na ânsia por um mínimo de cobertura diplomática, o Itamaraty emitiu nota na terça-feira lamentando as declarações contra Israel feitas por Ahmadinejad na abertura da conferência antirracismo da ONU em Genebra. Entre outras coisas, nossa diplomacia lamentou que o presidente iraniano tenha "diminuído a importância de acontecimentos trágicos e historicamente comprovados, como o Holocausto". Mas Ahmadinejad até que foi camarada com a realidade histórica e, de acordo com funcionários da ONU, removeu do seu texto expressões que descreviam o Holocausto como "ambíguo e dúbio".

Mais do que um negador da realidade, Ahmadinejad é um perigo para a realidade. E, no entanto, estará no Brasil, entre outras coisas, em busca de cooperação para o projeto nuclear do seu país. Alguns perguntam: como negar o direito ao Irã de desenvolver seu programa nuclear? O país é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que permite o desenvolvimento transparente de tecnologia nuclear para uso pacífico.

Mais: como negar a bomba para o Irã? Israel já tem seu arsenal. Então, vamos adiante: como negar a bomba para a Arábia Saudita, Egito, Turquia, etc? Maravilha: assim o perigo realmente prolifera. Toda desconfiança é pouca em relação aos desígnios supostamente pacíficos do programa nuclear iraniano. O país desacata as resoluções da ONU sobre o enriquecimento de urânio.

Bizarro e deliberado nas suas provocações, Ahmadinejad, em campanha para ser reeleito em junho, é apenas a face mais visível do regime iraniano. Difícil prever hoje qual será o resultado da eleição no país em que a autoridade suprema não é o presidente, mas o aiatolá Ali Khamenei. Mesmo um governo menos bizarro irá, em princípio, adiante com as ambições nucleares. O projeto nuclear é um projeto nacional e não das facções "mais xiitas" da sociedade iraniana. Deter este programa nuclear deveria ser um projeto global.

Talvez haja algumas diferenças táticas e estratégicas dentro do Irã. Para a linha-dura, a aquisição da bomba pode servir para propósitos genocidas, como um ataque a Israel, ou como dissuasivo para exigir o respeito ocidental e aceitação do regime como ele é. Israel, é claro, não participa deste jogo de dissuasão e acena com o ataque já a médio prazo (próximos meses?). Os reformistas querem ao menos a opção nuclear (vá lá, vamos até admitir que para fins pacíficos), pois, sob razoáveis negociações, calculam que possa levar à aceitação do país como a principal potêncial regional e uma política de distensão (acomodação) com os EUA. Israel não faz distinções neste nevoeiro tático.

Para todos os efeitos, o regime já decidiu que se tornar um reconhecido poder nuclear, ao lado de suas conexões energéticas com a China e a Rússia, irá assegurar um lugar entre as grandes potências. É difícil imaginar um ataque israelense sem, ao menos, o apoio tácito dos EUA. A questão crucial para o governo Obama é se irá aceitar ou não um modus-vivendi com o Irã nuclear. Neste picadeiro, Ahmadinejad é apenas o figurante mais espalhafatoso.

Caio Blinder

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