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terça-feira, 16 de junho de 2009

Aumenta o antissemitismo na América

Houve um aumento dos incidentes antissemitas na América Latina após o conflito israelense-palestino na faixa de Gaza - e o aspecto mais importante deste fenômeno é que ele é muitas vezes alimentado por propagandas racistas na mídia estatal.

É verdade que há muito tempo episódios isolados de antissemitismos ocorrem na América Latina, assim como em outras partes do mundo. Mas agora, depois que o presidente venezuelano Hugo Chávez auto-proclamou uma "aliança estratégica" com o governo abertamente anti-judaico do Irã, há um aumento visível de propagandas antissemitas na mídia regional financiada pela Venezuela.

Isso está alimentando o sentimento antissemita na região. Na Argentina, o governo populista da presidente Cristina Fernández de Kirchner viu-se obrigado a condenar incidentes antissemitas ocorridos na quarta-feira, 28 de janeiro, depois que o conhecido ativista político Luis D'Elia - um ex-assessor de Kirchner que tem contatos estreitos com o governo argentino e com Chávez - liderou manifestações contra Israel, nas quais os participantes portavam cartazes que igualavam a suástica nazista à Estrela de Davi.

No início da semana, um pequeno grupo de manifestantes anti-Israel reuniu-se em frente a um hotel do proeminente empresário judeu Eduardo Elsztain, e gritou insultos.

"Ele foi assediado simplesmente por ser judeu", afirmou o diretor do Centro Simon Wiesenthal na América Latina, Sergio Widder, falando por telefone da Argentina. "Isso cria um precedente perigoso. A menos que o governo estabeleça limites para este tipo de coisa, amanhã eles assediarão qualquer outro judeu".

O ministro da Justiça, Anibal Fernandez, disse que ordenou a investigação do episódio, acrescentando que tratou-se de uma "coisa maluca" e "inaceitável".

No Brasil, em uma declaração divulgada em 5 de janeiro o Partido dos Trabalhadores, o partido político fundado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alegou que o ataque de Israel contra a faixa de Gaza para impedir que militantes do Hamas disparassem foguetes contra território israelense foi uma "prática nazista típica".

A declaração não fez menção aos milhares de foguetes disparados pelo Hamas contra Israel nos últimos anos, nem à posição oficial do grupo favorável ao aniquilamento de Israel.

Mas, segundo organizações judaicas, em nenhum lugar da América Latina o antissemitismo é um problema tão grande quanto na Venezuela.

"Estamos presenciando expressões de antissemitismo em vários países da região, mas a maioria delas vem de grupos marginais", me disse Dina Siegel Vann, diretora do departamento para questões latino-americanas do Comitê Judaico Americano, com sede em Nova York. "Mas a Venezuela é o único país onde há uma campanha sistemática patrocinada pelo Estado".

Autoridades venezuelanas negam qualquer preconceito antissemita, afirmando que Chávez assinou uma declaração em novembro de 2008 com os presidentes do Brasil e da Argentina condenando a intolerância religiosa, "especialmente o antissemitismo e o anti-islamismo".

Mas Chávez, que expulsou o embaixador israelense após o ataque de Israel contra a faixa de Gaza, mencionou a comunidade judaica quando referiu-se ao conflito no território em uma entrevista em 6 de janeiro à rede de televisão estatal venezuelana VTV.

"Vamos esperar que a comunidade judaica venezuelana declare-se contrária a essa barbaridade. Façam isso!", disse Chávez à VTV, de acordo com a agência de notícias espanhola EFE. "Os judeus não repudiam o Holocausto? E é precisamente isto o que estamos presenciando".

A mídia regional apoiada por Chávez traz notícias antissemitas - e não apenas anti-Israel - quase diariamente.

Em 22 de janeiro, um artigo de Emilio Silva no www.aporrea.org pediu "a denúncia pública, com nomes e sobrenomes, dos membros dos grupos judaicos poderosos presentes na Venezuela". Ele também pediu que "seja exigido publicamente de qualquer judeu, em qualquer rua, centro comercial ou praça pública, que assuma uma posição, gritando slogans de apoio à Palestina e contra o Estado de Israel, que parece um aborto".

Enquanto escrevo este artigo, uma breve olhada no website da Telesur, a rede regional de televisão com sede na Venezuela, de propriedade dos governos da Venezuela, Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e Paraguai, trazem uma matéria intitulada "As Ruínas de Gaza", que acusa Israel e "os judeus do mundo" de deixarem de denunciar as atrocidades cometidas pelas tropas israelenses e "aviões judeus" na faixa de Gaza.

A minha opinião: Não questiono o direito dos críticos de acusar Israel de usar força excessiva na faixa de Gaza, ainda que eu ache que os dois lados deveriam ser responsabilizados pelo trágico conflito. Mas, colocar os "judeus do mundo" - ou, também, o "mundo islâmico" - na equação daquilo que deveria ser tratado como um conflito nacional-territorial, e não religioso, não passa de racismo declarado, do tipo que contribuiu para criar o clima para algumas das piores calamidades da humanidade.

USA Today

Tradução: UOL

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