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quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Solução Final - Nunca Mais!

Áustria: 50.000 – 27%; França: 77.230 – 22%; Alemanha: 134.500-141.500 – 25%; Hungria: 550.000-569.000 – 68%; Holanda: 100.000 – 71%; Polônia: 2,9 milhões-3 milhões – 90%; União Soviética: 1 milhão-1,1 milhão – 35%.[1]



Esses números representam estimativas do total de judeus mortos no Holocausto nesses países. Quando a fumaça da Segunda Guerra Mundial baixou, um terço dos judeus do mundo – dois terços do judaísmo da Europa – tinha sido morto naquilo que os nazistas chamaram de "solução final", o último passo num programa em três etapas: expulsar, confinar e matar o povo judeu.



Expulsos

Hitler já era anti-semita muito antes de subir ao poder. Seu ódio intenso impunha-lhe a identificação de seus inimigos, de forma que pudesse expulsá-los da Alemanha. Ele tinha que ser capaz de responder à pergunta: "Quem é judeu?" Os nazistas tinham à disposição décadas de produção de material "científico" anti-semita a ser estudado para responder a essa pergunta. Os funcionários nazistas e seus legisladores publicaram o primeiro decreto suplementar em 14 de novembro de 1935.[2] Essa legislação continuou a expandir-se ao longo de todo o Terceiro Reich. Médicos e genealogistas gastaram grande quantidade de tempo e energia para determinar as linhagens individuais de pessoas originárias de casamentos mistos. Esses "Mischlinge" (mestiços) seriam considerados judeus caso tivessem 1/16 ou mais de sangue judeu.[3] O escritor David Rausch afirmou: "Nesse momento, a filiação religiosa não significava nada – um cristão alemão de segunda geração podia ser rotulado de ‘judeu’ com uma simples canetada".[4]



Uma vez estabelecida a definição de "judeu", começou a difamação. A subida de Hitler ao poder consistiu numa persistente mensagem de que os judeus significavam uma constante ameaça à estabilidade da "Pátria Alemã". Com o emprego da SS e de suas tropas de "camisas marrons", Hitler removeu líderes judeus qualificados das áreas da educação, das finanças, da política, da medicina e da religião, substituindo-os por nazistas. Sua mensagem de ódio passou a ser multiplicada em cada um dos mais importantes setores da vida na Alemanha.



A mensagem era constante e incansável. Os judeus foram acusados de serem idólatras, assassinos e apóstatas; foram rotulados como mentirosos, enganadores, portadores de doenças, demoníacos, malignos, desprezíveis e parasitas. Joseph Goebbels, ministro de Hitler para o Esclarecimento Nacional e Propaganda, afirmou: "A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma idéia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa idéia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela".[5]



Hitler disse: "Diga mentiras grandes; diga-as de forma simples, repita-as constantemente, tantas vezes quantas você puder, até que as pessoas comecem a acreditar no que você está dizendo".[6]



Definir quem eram os judeus e difamá-los estava ocorrendo desde o tempo da ascensão de Hitler ao poder, em 1933. As massas acreditaram nas mentiras, o que resultou no boicote aos negócios judeus, em forçar médicos judeus a abandonarem os consultórios, na demissão de professores e de funcionários judeus no governo, na remoção de juízes judeus da magistratura e na recusa de matrícula a estudantes judeus. Em cada caso, os judeus eram encarados como uma ameaça ao povo alemão.



Em 1935, as leis de Nuremberg entraram em vigor: os judeus alemães foram privados de sua cidadania, proibidos de casar com gentios alemães ou mesmo de usar a bandeira nacional. Difamar o povo judeu dava permissão ao abuso físico e à expropriação de seus bens.



Herschel Grynzpan, um jovem de 17 anos, judeu alemão de descendência polonesa, que vivia com parentes em Paris, leu relatos sobre como os nazistas tratavam os judeus. Consciente dos sofrimentos que sua família experimentava na Alemanha, Herschel sentiu-se impotente. Ainda mais desanimadora foi a notícia de que sua irmã havia sido deportada para a Polônia. Portando uma arma, Herschel entrou no escritório do embaixador alemão e o matou. Quando se encontrava diante do magistrado, em Paris, ele lamentou: "Ser judeu não é crime. Nós não somos animais. O povo judeu tem o direito de viver".[7]



Os nazistas responderam ao assassinato do embaixador fazendo com que a SS usasse roupas comuns para realizar um "pogrom" (movimento popular de violência contra os judeus). Na terrível noite de 9 de novembro de 1938, 815 estabelecimentos de judeus foram destruídos, 191 sinagogas foram queimadas, 20.000 judeus foram presos e 36 foram mortos. Para unir o insulto à injúria, os nazistas puseram a culpa nos judeus e os obrigaram a pagar pelos danos em suas próprias propriedades, negando o pagamento legítimo do seguro. O valor total chegou a um bilhão de marcos (400 milhões de dólares). O cônsul-geral americano em Stuttgart relatou: "Os judeus do sudoeste da Alemanha sofreram vicissitudes tais durante os últimos três dias, que parecem irreais a alguém que vive num país civilizado no século vinte".[8]



A "Kristallnacht" ("Noite dos Cristais"), a infame noite dos vidros quebrados, foi a última gota para a maior parte dos judeus alemães. Milhares deixaram o país; centenas cometeram suicídio. De 1933 a 1938, identificar, difamar e privar os judeus alemães de todos os seus direitos foi a rotina. Enquanto isso, os nazistas os expropriaram de suas posses. Entretanto, surpreendentemente, quase a metade dos judeus da Alemanha acreditava que a situação não ficaria pior. Eles estavam dispostos a esperar que tudo terminasse, condenando, em alguns casos, até mesmo seus irmãos judeus que resolveram ir embora. Essa decisão, pouco tempo depois, trouxe-lhes horror indescritível.



Crianças vivendo nas ruas no Gueto de Varsóvia choram por comida, 1941.

Confinados

Com todo o ódio e horror presentes na Alemanha, a população judaica era relativamente pequena: em torno de 650.000. Esse número aumentou imediata e dramaticamente quando a Alemanha invadiu a Polônia, em 1º de setembro de 1939, e a Segunda Guerra Mundial começou. Milhões de judeus estavam agora sob jurisdição nazista, em lugares como a Polônia, a Lituânia, a Letônia, a Estônia, a Rússia Ocidental e a Tchecoslováquia. Em vez de expulsá-los, os nazistas começaram a construir muros ao redor deles para cercá-los. Tais paredes foram erguidas ao redor de pequenas áreas em cidades dos países conquistados, que incluíam Varsóvia, Lodz, Odessa, Kiev, Cracóvia e Lublin. Milhares foram confinados em espaços diminutos. Outros milhares, trazidos de fora dessas cidades, foram colocados em guetos. A escritora Lucy S. Dawidowicz explica: "Os guetos eram localizados nas partes mais antigas, mais arruinadas, das cidades, algumas vezes em áreas privadas das comodidades próprias das comunidades urbanas – ruas pavimentadas, iluminação, sistema adequado de esgotos, saneamento básico".[9]



À medida que os exércitos alemães conquistavam mais territórios, mais judeus iam sendo enviados aos guetos. A alimentação tornou-se um problema cada vez maior. A quantidade média diária de calorias que um adulto ingere gira em torno de duas mil. Nos guetos, essa quantidade ficava entre trezentas e quinhentas – quando não faltava de todo. A morte por inanição era comum. Os judeus nos guetos ficavam tão fracos, que seus corpos não resistiam às doenças; qualquer doença infecciosa podia se espalhar e causar muitas mortes adicionais.[10] As condições eram tão deploráveis, que tornou-se comum ver pessoas entrarem em colapso, morrerem e decomporem-se nas ruas, enquanto os vivos passavam por elas cambaleando.



Na supervisão dos guetos havia um grupo de vinte e quatro homens, chamado "Judenrat" (Conselho dos Judeus). Os nazistas escolhiam esses homens para cumprirem suas exigências, mas não lhes davam nenhum apoio ou ajuda para realizar seus desejos. Uma de suas maiores responsabilidades consistia em selecionar nos guetos as pessoas a serem deportadas. Esses judeus eram levados em vagões fechados para os campos de concentração. Nesses campos, os judeus mais fortes – geralmente os homens – eram imediatamente colocados a trabalhar. As mulheres eram separadas dos homens, muitas delas levadas à força para bordéis. Outras eram usadas como cobaias em experiências médicas diabólicas. E outras, ainda, fariam uma viagem da qual nunca voltariam.



Uma jovem mãe e seus dois filhos junto a um grande grupo de judeus, reunidos para execução em massa - 16 de outubro de 1941.

Mortos

Por fim, os nazistas resolveram o que eles chamavam de "problema judeu" com a "solução final". Explicando de forma simples, os nazistas mataram os judeus. Eles os mataram em diversos lugares e de diversas formas. Uma das primeiras maneiras foi o emprego de unidades de extermínio móveis, chamadas "Einsatzgruppen". Esses grupos eram uma divisão da SS, dirigida por Reinhard Heydrich, chefe da polícia de segurança. Ao entrar numa cidade ou vila, a SS reunia os líderes, que eram instruídos a fazer sair todas as pessoas judias, forçá-las a trazer todos os seus objetos de valor e a tirar a roupa completamente. Então elas tinham que ajoelhar-se no chão, e os soldados as matavam. Em muitos casos, as pessoas tinham que cavar suas próprias sepulturas antes de serem mortas.



Mais tarde, meios mais eficientes foram utilizados para assassinar os judeus. Uma vez que as balas eram muito caras, os "Einsatzgruppen" empregaram camionetes como câmaras de gás, a fim de matar economicamente. Os judeus eram levados nessas camionetes, aproximadamente 15 de cada vez. Todos os ocupantes morriam, pois o escapamento do veículo era canalizado para dentro da carroceria fechada da camionete. Ao todo, os "Einsatzgruppen" exterminaram aproximadamente 800.000 judeus no leste da Europa. Cerca de 35.000 judeus foram mortos no desfiladeiro Babi Yar, perto de Kiev (Ucrânia).



Dawidowicz escreveu: "Em 21 de junho de 1943, [Heinrich] Himmler ordenou a liquidação dos guetos... permitindo a sobrevivência de operários judeus apenas em uns poucos campos de concentração".[12] Eles foram enviados a lugares como Auschwitz, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobidor e Treblinka. De 5.370.000 pessoas mortas nesses lugares, a vasta maioria era constituída de judeus. Entre as outras encontravam-se as que fossem consideradas inimigas do Estado, tais como Testemunhas de Jeová e ciganos.



Homens judeus aguardam a morte em um caminhão de gás no campo de extermínio de Chelmno.

A finalidade desses lugares era matar – e fazê-lo com eficiência. Quando os "Einsatzgruppen" começaram suas matanças em massa, o custo médio era de dez centavos per capita. Com o emprego dos campos de extermínio, o custo caiu para pouco mais que um centavo.[13] Isso era realizado com o emprego de um gás chamado "Zyklon B", um pesticida de cianeto cristalino. O procedimento era simples, surreal e chocante. As vítimas de vários guetos eram amontoadas em vagões de gado e transportadas durante horas. Muitos acabavam morrendo no caminho. Imediatamente na chegada, os homens eram separados das mulheres e crianças. Suas cabeças eram raspadas e suas roupas tiradas. Eles tinham que passar por alas de policiais, indo para o que lhes diziam ser chuveiros. "A exposição ao gás durava de dez a trinta minutos, dependendo... das técnicas usadas".[14]



Dawidowicz diz: "No dia 16 de março de 1946, Rudolf Hoss [não Hess] fez a seguinte afirmação a dois oficiais da Unidade de Investigação de Crimes de Guerra, do Exército Britânico estacionado junto ao Reno: ‘Eu pessoalmente, sob ordens recebidas de Himmler em maio de 1941, com o emprego de câmaras de gás, executei dois milhões de pessoas entre junho-julho de 1941 até o final de 1943, tempo durante o qual fui o comandante de Auschwitz’."[15]




Steve Herzig é diretor dos ministérios norte-americanos de The Friends of Israel.

Notas:

  1. Encyclopedia of the Holocaust, citado no site do Yad Vashem [www.yadvashem.org/about–holocaust/faqs/answers/faq–4–html].
  2. Lucy Dawidowicz, The war against the jews 1933-1945, Holt, Rinehart and Winston, New York, 1975, p. 76.
  3. Anotações não-publicadas de uma palestra sobre o Holocausto proferida por Byron Sherwin, College of Judaica, Chicago, 1981-82.
  4. David A. Rausch, A legacy of hatred, Moody Press, Chicago 1984, p. 77.
  5. Ibid., p. 87.
  6. Anotações não-publicadas.
  7. Rausch, pp. 83-84.
  8. Ibid., p. 84.
  9. Dawidowicz, p. 280.
  10. Seymour Rossel, The holocaust: the world and the jews 1933-1945, Behrman House, Inc., New Jersey, 1992, p. 34.
  11. Ibid., p. 44.
  12. Dawidowicz, p. 188.
  13. Anotações não-publicadas.
  14. Dawidowicz, p. 199.
  15. Ibid., p. 200.

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