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terça-feira, 26 de maio de 2009

Um aluno de Hebraico

Eu era um menino quando sentado na sala da casa de meu avô com um "carrinho" na mão levantei os olhos para a estante cheia de livros e os meus olhos se apegaram a um que muito me chamou a atenção. Hoje eu sei que na barra estava escrito em hebraico: TORAH. Minhas mãos se deram àquele livro e com ímpeto o abri. Todas aquelas letrinhas quadradas me encantaram. Aqueles pontinhos por todos os lados marcando as letras - foi amor à primeira vista.

Larguei o carrinho e sentei no sofá e fiquei folheando o Sagrado Livro por um bom tempo esperando meu avô chegar. Quando ele adentrou a sala de pronto perguntei a ele que idioma era aquele; ele um pouco descontente por eu haver mexido na sua protegida estante de livros me respondeu: "Isto é Hebraico". Perguntei se ele sabia falar aquele idioma e ao me responder fiquei triste: "ninguém conhece ou fala esta língua aqui".Não desanimei, estava apaixonado! saia da minha casa, que era bem longe, e ia quase todos os dias a casa do meu avô "copiar" aquelas letras que tanto me prenderam a atenção. Deitava-me ao chão com um caderno e um lápis e copiava longos trechos. Embora eu não entendesse o que copiava, foi assim que aprendi a escrever em hebraico. Ainda hoje tenho aqueles cadernos cheios de textos, que graças a Deus, hoje em parte já os compreendo. Na época eu tinha 12 anos.

Passou-se o tempo e nunca encontrava alguém para ensinar-me o lindo idioma. Lembro quando eu tinha 15 anos, quando toda família estava na sala assistindo um filme na TV sobre um seqüestro de um avião com Israelitas na Uganda. De repente ouvi um homem judeu rezando: "Baruh athah Adonay..."

Rapidamente raciocinei: se ele é judeu isto que ele pronunciou é hebraico, naquela hora eu disse em voz audível: "é lindo!" Meu irmão assustado perguntou-me: o que é lindo? Sem responder corri e peguei um gravador antigo e fiquei ao pé da televisão na esperança que alguém falasse novamente em hebraico. Ninguém mais falou em hebraico no filme, mas depois fui à locadora e consegui locá-lo e agora ficava voltando sempre na parte em que o homem orava em hebraico, até que conseguir decorar. Mas era tudo o que sabia mesmo sem saber o significado.

Aos 18 anos, passando pelo centro da cidade de Teresina, a vitrine de uma nova livraria me chamou a atenção: "Gramática Elementar da Língua Hebraica".

Era caríssima e eu ainda não trabalhava. Propus ao meu avô pintar toda a casa dele e ele compraria a Gramática pra mim. Eu nunca havia pintado nada na minha vida e o trabalho que eu pensava em terminar em dois dias demorou uma semana. Peguei o dinheiro com as mãos corroídas pela cal e pela tinta e fui alegre e feliz à livraria adquirir aquela gramática. Boa parte do conhecimento de Hebraico Bíblico que tenho veio dela. Ainda a tenho bem conservada, para mim é uma "amiga".

Hoje aos 28 anos estou grato por ter estado aqui. Meu jeito calado, a voz embargada, a distração fotografando minha primeira Morah de Hebraico - você querida Cecília - foram expressões da emoção em estar em contato direto com o idioma e com uma pessoa do "Povo Amado". Foram dias inesquecíveis. Valeu cada centavo economizado, todos os meses que esperei passar, o medo do avião, a saudade de minha Ahuva Cristiane e meu Ben Kalev, aliás: não tem preço.

Ter estado aqui, agora faz parte da minha vida.

Todah Rabah ahuva chaverah shely Cecília Ben-Davi,

Shalom,

Talmid shelcha: Osiel Borges

Centro de Cultura Judaico

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