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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Israel e o eixo do mal

A Coreia do Norte fica a meio mundo de distância de Israel. Mesmo assim, o teste nuclear que ela realizou no dia 25 de maio de 2009 colocou os responsáveis pela defesa de Israel em alerta máximo, enquanto seus oponentes iranianos ficaram sorridentes como o gato de Cheshire (personagem de Alice no País das Maravilhas).

Entender por que isso acontece é a chave para se compreender o perigo representado por aquilo que alguém chamou, certa vez, de maneira pouco polida, de Eixo do Mal.

Há menos de dois anos atrás, no dia 6 de setembro de 2007, a Força Aérea Israelense (FAI) destruiu uma usina de produção de plutônio construída pela Coreia do Norte em Kibar, na Síria. A instalação destruída era praticamente um clone da usina de produção de plutônio Yongbyon na Coreia do Norte.

Em março de 2008, o diário suíço Neue Zuercher Zeitung informou que o desertor iraniano Ali Reza Asghari, que serviu como general na Guarda Revolucionária do Irã e como vice-ministro da Defesa antes de sua fuga para os Estados Unidos, em março de 2007, revelou que o Irã pagou pela usina nortecoreana. Teerã via a instalação na Síria como uma extensão de seu próprio programa nuclear. De acordo com estimativas israelenses, o Irã gastou entre 1 e 2 bilhões de dólares no projeto.

Pode-se pressupor que funcionários iranianos estavam na Coreia do Norte durante o teste. Nos últimos anos, participantes do programa nuclear iraniano estiveram presentes em todos os testes mais importantes da Coreia do Norte, inclusive na explosão de sua primeira bomba nuclear e no lançamento do míssil balístico intercontinental em 2006.

Além do mais, é provável que a Coreia do Norte tenha realizado algum nível de coordenação com o Irã no que se refere à escolha do tempo mais adequado para seus testes da bomba nuclear e dos mísseis balísticos. É difícil imaginar que seja uma mera coincidência que as ações da Coreia do Norte acontecessem exatamente uma semana após o Irã ter testado seu míssil de combustível sólido Sejil-2, com um alcance de 2 mil quilômetros.

Independentemente de sua proximidade cronológica, a razão principal por que faz sentido pressupor que o Irã e a Coreia do Norte combinaram seus testes é que a Coreia do Norte tem tido um papel central no programa de mísseis do Irã. Embora observadores ocidentais afirmem que o Sejil-2 do Irã tenha base em tecnologia chinesa transferida ao Irã através do Paquistão, o fato é que o Irã deve grande parte de sua capacidade em mísseis balísticos à Coreia do Norte. O míssil Shihab-3, por exemplo, que forma a espinha dorsal da estratégia do Irã, que ameaça Israel e seus vizinhos árabes, é simplesmente uma adaptação iraniana da tecnologia do míssil Nodong da Coreia do Norte. Desde pelo menos o início dos anos 1990, a Coreia do Norte tem prazerosamente proliferado aquela tecnologia entre quem quisesse. Como o Irã, a Síria deve grande parte de seu robusto arsenal de mísseis à proliferação nortecoreana.
Em resposta ao teste nuclear da Coreia do Norte, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse: "O comportamento da Coreia do Norte aumenta as tensões e enfraquece a estabilidade no Nordeste asiático''.

Embora [a afirmação de Obama] seja verdadeira, os laços íntimos da Coreia do Norte com o Irã e a Síria mostram que o programa nuclear nortecoreano, com suas ogivas, mísseis e componentes tecnológicos, não é uma ameaça distante, limitada em alcance à longínqua Ásia Oriental. É um programa multilateral, compartilhado em vários níveis com o Irã e a Síria.

Conseqüentemente, coloca em perigo não apenas países como o Japão e a Coreia do Sul, mas todas as nações cujos territórios e interesses estão ao alcance dos mísseis iranianos e sírios.

Mais que seu impacto sobre a capacidade tecnológica e de equipamentos do Irã, o programa nuclear da Coréia do Norte tem influenciado singularmente a estratégia política iraniana para o avanço diplomático de seu programa nuclear. A Coreia do Norte tem sido pioneira na utilização de uma mistura de agressão diplomática e pseudo-acomodação para, alternativamente, intimidar e persuadir seus inimigos a não reagirem contra seu programa nuclear. O Irã tem seguido assiduamente o modelo de Pyongyang. Além disso, o Irã tem usado a resposta internacional - e especialmente a americana - a várias provocações nortecoreanas ao longo dos anos, para determinar como se posicionar a qualquer momento a fim de fazer avançar seu programa nuclear.

Por exemplo, quando os Estados Unidos reagiram ao teste do míssil balístico intercontinental e ao teste nuclear da Coreia do Norte em 2006 através do restabelecimento de conversações com seis países na esperança de apaziguar Pyongyang, o Irã aprendeu que, ao demonstrar interesse em envolver os Estados Unidos em seu programa de enriquecimento de urânio, poderia ganhar um tempo valioso. Assim como a Coreia do Norte foi capaz de dissipar a determinação de Washington em agir contra ela enquanto ganhava tempo para fazer avançar ainda mais seu programa através das conversações com os seis países, também o Irã, ao aparentemente concordar com um molde para discutir seu programa de enriquecimento de urânio, tem sido capaz de manter os Estados Unidos e a Europa à distância nesses últimos anos.

A resposta impotente da administração Obama ao teste do míssil balístico intercontinental de Pyongyang e sua reação semelhantemente gaguejante ao teste nuclear da Coreia do Norte mostraram a Teerã que já não precisa nem fingir interesse em negociar aspectos de seu programa nuclear com Washington ou com seus parceiros europeus. Enquanto o aparente interesse em alcançar certa acomodação com Washington fazia sentido durante o tempo em que Bush era presidente, quando gaviões e pombas competiam pela atenção do presidente, hoje, com a administração de Obama formada apenas por pombas, o Irã, assim como a Coreia do Norte, entende que não tem nada a ganhar por fingir-se preocupado com a concordância de Washington.

Esse ponto foi esclarecido nitidamente tanto pela resposta verbal imediata do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao teste nuclear nortecoreano, quanto pelo envio provocador de navios iranianos ao Golfo de Aden no mesmo dia. Como disse Ahmadinejad, na opinião do regime iraniano, "a questão nuclear do Irã acabou''.

Não há motivos para se falar mais nada. Assim como Obama tornou claro que não tem intenção de fazer coisa alguma em resposta ao teste nuclear da Coreia do Norte, o Irã também acredita que o presidente não fará nada para impedir seu programa nuclear.

É claro que não é simplesmente a política do governo americano com relação à Coreia do Norte que está sinalizando ao Irã que ele não tem motivos para ficar preocupado com a possibilidade dos Estados Unidos desafiarem suas aspirações nucleares. A política geral dos Estados Unidos para o Oriente Médio, que condiciona a ação americana contra o programa de armas nucleares do Irã à implementação anterior de um acordo de paz impossível de ser realizado entre Israel e os palestinos, torna óbvio para Teerã que os Estados Unidos não tomarão providência alguma para impedir o Irã de seguir os passos da Coreia do Norte para se tornar uma potência nuclear.

Obama, durante sua entrevista à imprensa com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse que os Estados Unidos irão reavaliar seu compromisso de apaziguar o Irã ao final de 2009. Logo a seguir foi noticiado que Obama instruiu o Departamento de Defesa a montar um plano para atacar o Irã. Além disso, o chefe do Estado-Maior Conjunto, almirante Michael Mullen, fez recentemente várias declarações avisando sobre o perigo que um Irã com armas nucleares será para a segurança global - e, por extensão, à segurança nacional dos Estados Unidos.

Superficialmente, tudo isso parece indicar que o governo Obama pode estar disposto a realmente fazer algo para impedir o Irã de se tornar uma potência nuclear. Infelizmente, porém, devido ao prazo que Obama estabeleceu, fica claro que, antes que ele esteja pronto para levantar um dedo contra o Irã, a "mullahcracia'' já terá se tornado uma potência nuclear.

Israel avalia que o Irã terá quantidade suficiente de urânio enriquecido para fazer uma bomba nuclear antes do final do ano. Os Estados Unidos crêem que isso poderia demorar até a metade de 2010. Em sua entrevista à imprensa, Obama disse que, se as negociações estiverem fadadas ao fracasso, o próximo passo dos Estados Unidos será expandir as sanções internacionais contra o Irã. Com isso, pode-se pressupor também que Obama permitirá que essa política se mantenha por pelo menos seis meses antes que esteja disposto a reconsiderá-la. A essa altura, com toda probabilidade, o Irã já estará de posse de um arsenal nuclear.

Além do prazo dado por Obama, duas outras manifestações tornaram aparente que, independentemente do que o Irã fizer, o governo Obama não revisará sua política no Oriente Médio: a ênfase é o enfraquecimento de Israel e não o impedimento do Irã adquirir armas nucleares. Primeiro, o jornal israelense Yediot Aharonot informou que, em uma palestra recente em Washington, o general americano Keith Dayton, responsável pelo treinamento de forças militares palestinas na Jordânia, indicou que, se Israel não entregar a Judéia e Samaria dentro de dois anos, as forças palestinas, que ele e outros oficiais americanos estão treinando atualmente a um custo de mais de 300 milhões de dólares, poderiam começar a matar israelenses.

Admitindo a veracidade do relato do Yediot Aharonot, ainda mais perturbadora que a certeza de Dayton de que em breve essas forças treinadas pelos Estados Unidos poderiam começar a matar israelenses, é sua aparente serenidade em face das conhecidas conseqüências de seus atos. A perspectiva de as forças militares palestinas assassinarem judeus não faz com que Dayton repense se é sábio o compromisso dos americanos formarem e treinarem um exército palestino.

A afirmação de Dayton revelou o fato perturbador de que, embora o governo americano esteja completamente consciente dos custos de sua abordagem do conflito palestino com Israel, ainda não está disposto a reconsiderá-la. O secretário da Defesa, Robert Gates, acabou de estender o tempo de serviço de Dayton por mais dois anos, e acrescentou-lhe a responsabilidade de servir como assessor de George Mitchell, o mediador do governo Obama no Oriente Médio.

QUATRO DIAS depois que as observações de Dayton foram publicadas, funcionários de alto nível americanos e israelenses se encontraram em Londres. O propósito anunciado desse encontro foi discutir como Israel vai atender à exigência do governo americano de proibir todo tipo de construção nos assentamentos israelenses na Judéia e Samaria.

O mais notável sobre o encontro foi o momento da sua realização. Ao fazerem a reunião um dia depois que a Coreia do Norte testou sua bomba e que o Irã anunciou sua rejeição da oferta dos Estados Unidos de negociarem a respeito de seu programa nuclear, o governo americano demonstrou que, independentemente do que o Irã faça, o compromisso de Washington de exercer pressão sobre Israel não está sujeito a mudanças.

Tudo isso, logicamente, é música aos ouvidos dos mullahs. Com a impotência da América contra os aliados do Irã - os nortecoreanos - e o inabalável compromisso americano de manter as pressões sobre Israel, os iranianos sabem que não têm motivos para se preocupar com o Tio Sam.

Quanto a Israel, é positivo que as Forças de Defesa de Israel tenham realizado o maior exercício de defesa civil na história do país. A partir do teste nuclear da Coreia do Norte, da audaciosa belicosidade do Irã e da traição da América, fica claro que o governo israelense não pode fazer coisa alguma para impactar as políticas de Washington com relação ao Irã. Nenhuma destruição de assentamentos judaicos convencerá Obama a agir contra o Irã.
Hoje Israel está sozinho contra os mullahs e sua bomba. E isso, assim como a decisão dos Estados Unidos de abandonarem sua oposição ao Eixo do Mal, não está sujeito a mudanças.



Caroline Glick nasceu nos EUA e emigrou para Israel em 1992. Como capitã do exército israelense, ela fez parte da equipe de negociações com os palestinos de 1994 a 1996. Mais tarde, serviu como conselheira-assistente de política externa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (durante seu primeiro mandato, de 1997 a 1998). A seguir, fez mestrado na Universidade Harvard. Após retornar a Israel, foi comentarista diplomática e editora de suplementos sobre questões estratégicas no jornal Makor Rishon. Desde 2002, é vice-editora e colunista do jornal The Jerusalem Post. Seus artigos têm sido reproduzidos em muitas outras publicações e suas opiniões são amplamente respeitadas. Seu site é www.carolineglick.com







Escrito por: Caroline Glick, Editora Especial e Colunista do Jerusalem Post. Tradução: Noticias de Israel

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