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quinta-feira, 21 de maio de 2009

O dia a dia em Israel

Meu amigo turista brasileiro não se cansou de elogiar Israel, mas alguma coisa empanou a sua visita: o israelense. Por que, perguntou-me ele, o israelense está sempre com cara de bravo e ninguém saúda ninguém no elevador? Pensei com meus botões: o israelense é assim mesmo, e contei ao meu amigo a seguinte historia:


Outro dia sai com meu carro da garagem de minha casa, numa lenta marcha a ré. Brequei, fechei o portão com o controle remoto, o carro andou mais um pouco para trás e, quando mudei de marcha, para a minha surpresa, o carro, que é automático, continuou em marcha a ré e acabei parando do outro lado da rua, a qual fechei pela metade, em diagonal.


A rua onde eu moro não é das mais movimentadas, mas em alguns instantes formaram-se duas filas de automóveis, que começaram a buzinar desesperadamente, e eu nada podia fazer. A muito custo os motorista acabaram se entendendo e os carros começaram a se mover, num pandemônio de ruídos e gritos atirados contra minha pessoa.


Mesmo não havendo palavras de baixo calão, os distintos motoristas encontraram o devido vocabulário em hebraico para ferir a minha dignidade. Alguns até apontaram o dedo médio para cima, e algumas senhoras motoristas me cravaram olhares mortíferos –se olhar matasse, eu teria morrido várias vezes.


Havia decorrido apenas alguns segundos desde o início do “incidente”. De imediato, desliguei o motor, abri as portas do carro, abri o porta-malas, montei o triângulo vermelho indicativo da minha situação de penúria. Ajudou um pouco. Apenas um caminhoneiro parou um instante para perguntar se eu precisava de ajuda. Foi o único.


Dizem que Israel é o único lugar do mundo onde o som viaja mais rápido do que a luz! Se você está na primeira fila de um semáforo, mal o sinal muda e quem está atrás já buzina irritado. Dá até vontade de não sair do lugar para deixar o tipo ainda mais nervoso. Por que o israelense é assim? O cidadão, quando acorda de manhã, via de regra a primeira coisa que faz é ligar o rádio para escutar o bip bip bip, que indica o início do noticiário. Os locutores israelenses são sempre muito dramáticos, mesmo quando anunciam o resultado de futebol.


Mas as notícias nunca são boas. É outro foguete que caiu na cidade do Norte ou do Sul, é o tal ministro que está complicado com a Justiça, ou são notícias sobre os terroristas, os soldados raptados, as negociações intermináveis com os palestinos, ou sobre aquele famoso partido charedi que ameaça derrubar o governo, para não falar daquele aloprado presidente do Irã que acena pulverizar-nos, isto se não formos liquidados, como o resto do mundo, asfixiados pela poluição do planeta terrestre.


Além do veneno radiofónico, que o israelense toma com o seu café da manhã, os cabeçalhos dos jornais não são lá muito encorajadores. À noite, a televisão nos empolga e transmite ao vivo um noticiário que parece ser especialmente preparado para deixar os telespectadores completamente frustrados. Depois de tudo isso, o israelense já sai de casa emburrado, preocupado quanto ao destino do mundo em geral e o de Israel em particular. Quando chega ao trabalho e tem que entrar no elevador, sua cabeça ainda está extremamente atribulada, ele não vê ninguém, não cumprimenta, e ainda acha ruim se alguém passa a sua frente. Começa mal o dia.


Não é por força do acaso que o meu visitante interlocutor não se cansava de elogiar Israel, a tranqüilidade que se sente nas ruas, nos teatros, nos cafés. Pode-se caminhar tranqüilo, seja durante o dia ou à noite, e não ser assaltado. A única coisa que exige cuidado é o atravessar a rua, para evitar ser atropelado por algum motorista que maneja seu veículo em alta velocidade, enquanto a cabeça dele está em outro lugar.



Não sou sociólogo nem psicólogo para poder analisar o comportamento sui generis do israelense, mas pelo pouco que escrevi acima, valendo-me de Machado de Assis, ocorreu-me cognominar o israelense de “Dom Casmurro”.


P.S: O mecânico me informou, depois, que nada aconteceu com a caixa de câmbio do carro, e o problema foi resolvido com a simples troca de um cabo.

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Marcos Wasserman

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